domingo, 28 de junho de 2009

Folha de São Paulo: Desculpe-me, mas Erramos

Dilma contrata laudos que negam autenticidade de ficha
Imagem ilustrava reportagem da Folha; peritos não se basearam no jornal impresso

Professores compararam imagens reproduzidas pela internet com papéis do Arquivo Público; Folha reconheceu que ficha chegou por e-mail

DA REPORTAGEM LOCAL

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, encaminhou à Folha dois laudos técnicos, por ela custeados, que apontaram "manipulações tipográficas" e "fabricação digital" em uma ficha reproduzida pela Folha na edição do último dia 5 de abril.
A ficha contém dados e foto de Dilma e lista ações armadas feitas por organizações de esquerda nas quais a ministra militou nos anos 60. Dilma nega ter participado dessas ações. A imagem foi publicada pela Folha com a seguinte legenda: "Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu".
O laudo produzido pelos professores do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade de Campinas) Siome Klein Goldenstein e Anderson Rocha concluiu: "O objeto deste laudo foi digitalmente fabricado, assim como as demais imagens aqui consideradas. A foto foi recortada e colada de uma outra fonte, o texto foi posteriormente adicionado digitalmente e é improvável que qualquer objeto tenha sido escaneado no Arquivo Público de São Paulo antes das manipulações digitais".
O laudo produzido pelo perito Antonio Nuno de Castro Santa Rosa da Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos), ligada à UnB (Universidade de Brasília), chega às mesmas conclusões.
A ministra anexou o laudo da Unicamp em carta ao ombudsman da Folha. "Diante da prova técnica da falsidade do documento, solicito providências no sentido de que seja prestada informação clara e precisa acerca da "ficha" fraudulenta, nas mesmas condições editoriais de publicação da matéria por meio da qual ela foi amplamente divulgada, em 5 de abril de 2009", escreveu Dilma.
Em reportagem publicada no dia 25 de abril, intitulada "Autenticidade de ficha de Dilma não é provada", a Folha reconheceu ter cometido dois erros na reportagem original. O primeiro foi afirmar, na Primeira Página, que a origem da ficha era "o arquivo [do] Dops". Na verdade, o jornal recebera a imagem por e-mail. O segundo foi tratar como verdadeira uma ficha cuja autenticidade não podia ser assegurada, bem como não podia ser descartada.
O jornal também publicou um Erramos com os mesmos esclarecimentos. A ministra se disse insatisfeita, questionou a nova reportagem e decidiu contratar um parecer técnico.
Para a análise, os professores descartaram a imagem da ficha reproduzida pela Folha em sua edição impressa. Captaram na internet cinco imagens "com conteúdo similar ao utilizado pelo jornal Folha de S.Paulo". Dentre elas, escolheram como "objeto do laudo" a imagem divulgada no blog do jornalista Luiz Carlos Azenha, que reproduz artigos que criticam o jornal e questionam a autenticidade da ficha.
Para os peritos, a imagem do blog era a que tinha "a maior riqueza de detalhes". Goldenstein disse à Folha que "todas as imagens são de uma mesma família" e que a qualidade da imagem publicada pelo jornal não é boa o suficiente para "análise nenhuma".
Os professores compararam a imagem com documentos reais que supostamente teriam alguma semelhança (papel, caracteres) com a ficha questionada. Trata-se de cópias de fichas de presos pela ditadura, hoje abrigadas no Arquivo Público paulista. Escolheram as produzidas entre 1967 e 1969.
Contudo, no Erramos e na reportagem publicados no final de abril, a Folha havia explicado que a origem da ficha não era o Arquivo Público. A imagem não é datada -relaciona eventos ocorridos entre 1967 e 1969, mas pode ter sido produzida em data posterior.
Para concluir que a fotografia foi "recortada e colada", os professores compararam a foto de Dilma com fotos que encontraram no mesmo arquivo. A ficha questionada não informa que a foto de Dilma foi obtida naquele arquivo.
Sobre a impressão digital contida na ficha, os peritos apontaram não ser possível nenhuma conclusão, devido à baixa qualidade da imagem.

Crimes negados
Ouvido pela Folha na última quinta-feira, Goldenstein disse que não leu o blog do jornalista em que captou a imagem analisada e tampouco a reportagem original da Folha. "Não estou criticando o que a Folha fez. Vou ser bem sincero, eu nem li a reportagem original da Folha. Não cabe a mim julgar absolutamente nada. Meu papel é analisar essas imagens digitais que estão circulando na internet. O que a ministra me pediu: "É possível verificar, é possível um laudo sobre a autenticidade/origem da imagem? É possível dizer se vieram ou não do Arquivo Público?"."
Doutor em ciência da computação pela Universidade de Pennsylvania (EUA), ele diz que foi o primeiro laudo externo que produziu em sua carreira. A ficha questionada era uma das imagens que ilustrava a reportagem original cujo título foi: "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto".
Na carta à Folha, Dilma escreveu: "Reitero que jamais fui investigada, denunciada ou processada pelos atos mencionados nesse documento falso e de procedência inidônea, ao qual não se pode emprestar nenhuma credibilidade".
A Folha tem procurado checar a autenticidade da ficha. Foram contatados três peritos de larga experiência na análise de documentos e um especialista em imagens digitais.
Todos disseram que teriam dificuldades em emitir um laudo, pois necessitavam do original da ficha, que nunca esteve em poder da reportagem. Disseram que a análise de uma imagem contida num e-mail não seria suficiente para identificar uma eventual fraude

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Serra analisa adoção da medida no Estado

O governo de São Paulo avalia seguir o exemplo da prefeitura e divulgar os vencimentos de servidores públicos estaduais, desde que extensiva a todos os Poderes.
A intenção do governo José Serra (PSDB) é exibir os salários pagos por Judiciário, Legislativo, Ministério Público e universidades. Além disso, avalia-se que não compensaria divulgar a folha de pagamentos sem o registro das gratificações incorporadas aos salários.
A lista serviria como instrumento na queda-de-braço que o governo trava com os sindicatos no Estado. Hoje, a Secretaria de Gestão disponibiliza, via internet, o salário inicial de todas as carreiras do funcionalismo público e os vencimentos da área governamental.
Segundo uma nota divulgada ontem pela assessoria de imprensa, o governo paulista apoia "qualquer iniciativa que dê maior transparência aos gastos públicos".
"Em relação à divulgação da lista de cargos e salários de todos os servidores estaduais, informamos que o governo de SP vai estudar a adoção da medida", conclui a nota.
O governo já consultou a Procuradoria Geral do Estado, que desaconselhou a medida por temer eventuais ações judiciais por parte dos servidores. Diante disso, o governo decidiu esperar a reação dos servidores municipais à decisão da prefeitura para ver o que fazer.
No município, aliados do prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmam que -além de ser um "belo exemplo"- a divulgação de gastos funciona como medida preventiva.
"Agora, [o servidor] não tem como falar o que reivindica sem esclarecer quanto recebe. Também saberemos as carreiras que têm de ser valorizadas", disse o secretário dos Transportes, Alexandre Moraes.
Outro argumento é que, ao abrir os dados, a prefeitura toma a dianteira no combate a desvios e funcionários fantasmas. Qualquer descoberta será graças à prefeitura, avalia um interlocutor de Kassab.
A criação do portal consumiu quatro meses antes do anúncio oficial, na terça-feira. Além de Moraes e do prefeito, três secretários se dedicaram a implantar o sistema: Rodrigo Garcia (Gestão), Cláudio Lembo (Negócios Jurídicos) e Walter Aluisio Rodrigues (Finanças).
Uma demonstração da transferência do núcleo do poder na gestão Kassab, a operação exigiu discrição para evitar pressão dos prestadores de serviço e dos servidores.
Deixando clara a disposição de capitalizar politicamente a medida, Lembo disse que, num momento de crise no Senado, o país "está precisando de uma escalada de transparência".

COMENTARIO DO BLOG

Transparência? Sei... São Paulo e o Brasil agradecem. Pois se o governador Serra seguir o exemplo da prefeitura, isto é, divulgar o os vencimentos, salário dos de servidores públicos estaduais: Seria de fato ótimo, pois a população paulista ficará sabendo quanto ganha mau um policial, um professor, um motorista , enfim, quem de fato vai agradecer será os próprios servidores, Daí a não tem como negar aumento para esta categoria tão sofrida.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O PIG não suporta o Lula.

Comentário 1
O colunista da Folha de São Paulo Igor Gielow, diz que tem a cara do governo Lula a nova diretiva de comunicação da Petrobras em tempos de guerra. E diz ainda: A imprensa é pintada como o diabo, como de resto crê mesmo o governo. Puxa Igor Gielow.
Por que será que a Imprensa não quer que a Petrobras publique perguntas feitas por jornalista a companhia? Por que tanto tanta falta de transparência?

Comentário 2
O PIG não suporta o governo Lula, mas agora não suportará mais ainda, com entrada na Internet permite o acesso a uma fonte inesgotável de informação atualizada, ficará mais difícil emitir opiniões sem a consulta dos leitores. A Folha de São Paulo (PIG, Revistas, Jornais, TV e Radio, no dizer do jornalista Paulo Henrique Amorim) com certeza, não está nada gostando da Petrobras pelo fato da companhia inaugura um blog no qual faz comentários, isto é, editoriais sobre reportagens que lhe dizem respeito. Já faz muito tempo que está em curso um processo de "desconstrução" do presidente Lula da Silva, que se iniciou com o chamado Mensalão e avança até os dias de hoje.
Na verdade, imprensa vem fazendo denúncias sobre corrupção envolvendo a direção do Partido dos Trabalhadores há alguns anos, tomando o lugar da oposição. Encontra partida, a popularidade do Presidente só aumenta junto à população mais pobre. Daí fica a impressão de que a imprensa se orienta por premissas pré-existentes, mais do que pelos fatos. Enfim, fica a impressão é que o fato de as notícias sobre corrupção no governo não serem suficientes para demolir a reputação do presidente é sintoma de que estamos todos mergulhados em absoluto cinismo.


IGOR GIELOW

A transparência dos brucutus
BRASÍLIA - Tem a cara do governo Lula a nova diretiva de comunicação da Petrobras em tempos de guerra, aliás, CPI. A empresa inaugurou um blog no qual faz comentários, digamos assim, editoriais sobre reportagens que lhe dizem respeito. Mas não é só isso.
Questionamentos de jornalistas são publicados com as respostas que o Oráculo de Macaé achar adequadas. A Petrobras alega que isso é uma inovadora política de transparência de informações públicas.
Cascata. O objetivo é tentar esvaziar a bola das denúncias que inevitavelmente chegarão a seu balcão, contrainformação pura. Há uma quebra de contrato ao divulgar as informações de que os jornalistas dispõem, não raramente peças de quebra-cabeça ainda em formação.
Pior, se publicadas apressadamente, erros podem ser cometidos. O blog alega ridiculamente que não divulga mensagens dos jornalistas, mas "apenas" seu conteúdo. Ah, tá.
Com isso, a Petrobras acha que vai desestimular as apurações -isso para não falar em ética jogada ao ralo. Além de brucutu, a teoria é burra: tudo o que a empresa ganhará em troca será mais ânimo investigativo da imprensa, além da já mencionada chance de ser vítima de erros.
A leitura (http://petrobrasfatosedados.wordpress.com) é reveladora. Abundam comentários laudatórios -deve ser a tal transparência em ação. A imprensa é pintada como o diabo, como de resto crê mesmo o governo. Isso é um daqueles ranços que não tem "Carta ao Povo Brasileiro" que apague do coração dos petistas que aparelharam a empresa e o Planalto.
O dirigismo é primário. Notas do "Painel" desta Folha sobre a estratégia da empresa para a CPI são criticadas; informações da mesma seção sobre o que os tucanos estão aprontando são destacadas. Alguém no Oráculo, ou na Secretaria de Comunicação Social, deve considerar isso exemplo de isenção.