domingo, 23 de maio de 2010

Dilma-Lula já faz Serra mudar discurso

Mais do que o empate (37 a 37), com a subida de Dilma e a queda de Serra, agora finalmente admitido também pelo Datafolha, foi a imediata mudança no discurso do candidato tucano que mais me chamou a atenção no noticiário político deste sábado.

Ao mesmo tempo em que se consolida a imagem de Dilma-Lula, acaba a versão “Serrinha Paz e Amor”, com elogios a Lula e ao governo, adotada pelo PSDB desde a largada para as Eleições 2010. Ontem à noite mesmo, certamente já sabendo dos números do Datafolha, Serra voltou ao figurino original.

Atacou duramente o PT e até colocou em dúvida a existência de Deus: “Se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu”. Se falar em “momento mais patrimonialista da nossa história” vai ou não lhe render votos, não se sabe, mas é certo que daqui para a frente o tom será outro.

Em encontro com seus aliados do PPS de Roberto Freire, na noite de sexta-feira, Serra saiu dos cuidados recomendados por seus marqueteiros e criticou duramente a política econômica, um dos esteios da popularidade do presidente Lula, que bateu novo recorde no Datafolha (foi a 76%):

“Nós estamos voltando rapidamente a um modelo (voltado exclusivamente para o setor agrícola para exportação) que não atende à demanda de emprego que o país possui. Nós precisamos de uma economia que desenvolva não apenas o setor primário”.

O que aconteceu, afinal, para justificar esta guinada dos resultados do Datafolha e, em consequência, do discurso do candidato da oposição? Segundo o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, foi a televisão:

“O principal fato que pode ser apontado como responsável por essa alta da candidata é o programa partidário de TV que o PT apresentou recentemente”.

Sem tirar o mérito do competente programa do PT criado por João Santana na semana passada, em que o presidente Lula apresentou Dilma Rousseff como a sua candidata para dar continuidade às políticas do governo, o fato é que esta identificação por parte do eleitorado era só uma questão de tempo, como já vinha sendo mostrado pelas pesquisas Vox Populi e Sensus, divulgadas anteriormente. O programa serviu para apressar este tempo, antecipar uma tendência.

Na minha recente viagem pelo Nordeste, deu para perceber nas conversas com eleitores, principalmente nas cidades mais pobres do sertão, que muita gente ainda não sabe nem que teremos eleições presidenciais em outubro, muito menos quem são os candidatos. Alguns chegaram a falar vagamente que votariam na “mulher do Lula”, sem saber de quem se trata.

Se na pesquisa estimulada do Datafolha os dois principais candidatos chegam ao final de maio em situação de empate, abriu-se para cinco pontos a diferença na espontânea, agora fora da margem de erro: Dilma foi de 13 para 19, enquanto Serra subia de 12 para 14. Acrescente-se a isso o fato de 5% dos eleitores ainda terem intenção de votar em Lula, mais 3% que querem votar no “candidato de Lula” e mais 1% no “candidato do PT”.

Somados estes votos, que fatalmente irão para Dilma, quando todos forem informados de que ela é a candidata de Lula, a ex-ministra já poderia estar com 28% na espontânea neste momento.

Pela primeira vez, o Datafolha só trouxe notícias boas para Dilma e péssimas para Serra. Na rejeição, o índice de Dilma caiu de 24 para 20%, enquanto Serra subia de 24 para 27%. Na projeção de segundo turno, em que a pesquisa anterior, de abril, apontava uma diferença de 10 pontos a favor de Serra (50 a 40), agora Dilma aparece um ponto à frente (46 a 45).

Mais à vontade no papel de candidata, com menos gente dando palpite e falando em nome dela no comando da campanha, como eu já havia constatado no post anterior (“Virou de novo vento da campanha eleitoral”), tanto nos números das pesquisas como na sua atitude diante das platéias, Dilma inverteu os papéis com Serra, que começou melhor na largada, mas agora vai ter que rever toda sua estratégia.

É disto que falaremos nos próximos dias. Agora, será a vez de Serra e seus aliados ocuparem a televisão. Se o programa do PT se preocupou apenas em fazer de Lula o grande cabo eleitoral de Dilma, o que poderá dizer o programa do DEM na próxima semana?

Que Serra é o candidato de Rodrigo e Cesar Maia? Ou o PPS dirá que Serra é o candidato de Roberto Freire? E o do PSDB? Dirá que Serra é candidato de quem? Do próprio Serra, já que não é recomendável lembrar de FHC?

A campanha do candidato da oposição, que parecia caminhar tão bem, segundo o noticiário político, chega a uma encruzilhada. Já que não convém bater em Lula e no governo, que são rejeitados por apenas 5% da população, segundo o Datafolha, a única esperança de apresentar um fato novo na campanha para reverter a “onda Dilma”, que já começa a se formar, será convencer Aécio Neves a aceitar o papel de vice. Mesmo que ele aceite, o que parece improvável, já pode ser tarde demais.

Em campanhas presidencias, quando se começa a formar uma onda, como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso e seu Plano Real, em 1994, ou com Lula e seu grito de mudança, em 2002, fica muito difícil detê-la. Os números das últimas pesquisas, confirmados agora pelo Datafolha, mostram um quadro que pode se tornar irreversível à medida em que o eleitorado tomar conhecimento de quem é candidato de quem e o que cada um representa.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Muito Bom, este artigo do Jornalista Luiz Carlos Azenha

Os “genéricos” do Lula (não olhe o que tem dentro da caixa)
por Luiz Carlos Azenha


Tudo muito previsível até aqui na campanha eleitoral de 2010.

A notícia que não sai é sobre o extraordinário protagonismo que a própria mídia está jogando na campanha.

Um esforço que começou mais cedo, é muito melhor articulado e disseminado do que em 2006, por exemplo.

O padrão básico é o de desconhecer, demonizar ou associar a ex-ministra Dilma Rousseff a gafes, tropeções, erros e factóides. E o de dar ênfase aos “avanços” do ex-governador José Serra — na aliança com o PSC, com Marina Silva no Rio de Janeiro e assim por diante, se vocês me entendem.

Só a articulação com a mídia permitiu à oposição criminalizar o Instituto Sensus e lançar dúvidas sobre a credibilidade do Vox Populi, uma estratégia que permitiu ao Jornal Nacional anunciar que só divulgará os números de dois institutos “amigos”, o Ibope e o Datafolha.

A truculência digital que marcou as primeiras semanas de campanha na rede teve, em minha opinião, o objetivo de amedrontar a blogosfera que floresceu à margem das grandes empresas, além de transferir a matriz do debate para factóides e questões secundárias. Até nos comentários do blog notei a presença de novatos cujo objetivo parece ser o de “mudar de assunto” em relação ao conteúdo dos posts, de questionar o autor com ataques pessoais, etc.

Nada que me surpreenda: acompanhei a campanha eleitoral mais recente nos Estados Unidos e testemunhei o emprego dessas mesmas táticas.

Constatei pessoalmente a sujeição da política ao trabalho dos marqueteiros. O “produto” é colocado no mercado com o objetivo de enfatizar algumas características dele, deixando em segundo planos as mais desagradáveis. A máquina de moer carne dos republicanos fez um trabalho eficaz para reapresentar John McCain, um político de bastidores de Washington, como “independente”, um “outsider” — ou seja, para descolar McCain do legado desastroso do partido na economia e na política externa. Ao fim e ao cabo, McCain ainda conseguiu 45% dos votos.

Voltando ao protagonismo da mídia, nos Estados Unidos a Fox News, de Rupert Murdoch, fez muito mais que acompanhar a disputa eleitoral. Ela foi cabo eleitoral ativo, dando repercussão às notícias mais bizarras sobre Obama, como o fato de o democrata ter estudado em uma escola religiosa quando criança, na Indonésia, o fato de Obama fumar e a falsa polêmica sobre se Obama tinha mesmo nascido nos Estados Unidos. Lá tinha “outroladismo”, sim, mas recolocado da seguinte forma: um republicano lançando suspeições sobre a certidão de nascimento de Obama e um democrata dizendo que era tudo um tremendo absurdo. Assim era a cobertura “justa e equilibrada” da Fox.

Muito embora essa tática pareça bizarra aos olhos de quem tem senso de ridículo, não é. As notícias que surgiam em tablóides ou fofocas ganhavam ampla repercussão nacional através da Fox e, em seguida, alimentavam a rede nacional de programas de rádio de inclinação republicana. E, assim, o debate sobre questões políticas — quem John McCain representa, por exemplo — foi desfocado para características pessoais de Barack Obama.

No Brasil, em relação a 2006, quando a mídia também foi protagonista, algo mudou: a rápida expansão da internet e da telefonia celular. Hoje é raro encontrar algum jovem brasileiro que esteja completamente desconectado. Se você acha que já viu o pior da campanha de 2010, aguarde: em breve, teremos as chamadas feitas por robôs e as mensagens de texto via celular.

Há outra diferença crucial entre os Estados Unidos e o Brasil, neste campo. Lá, o processo de esgotamento da proposta política e econômica representada por George W. Bush e os neocons resultou numa militância dos democratas como há muito não se via, especialmente mas não apenas na internet. No Brasil, não se pode dizer que os últimos oito anos tenham sido marcados pela politização da sociedade. A ênfase foi em promover um desenvolvimentismo dissociado da política: mais vagas, mais geladeiras, mais automóveis.

O presidente Lula, ao buscar uma eleição plebiscitária, propôs circunscrever o debate ao “quem fez mais pelo país”. Na atual conjuntura econômica, talvez tenha acertado. Conta especialmente com os votos daqueles milhões que ascenderam socialmente durante seus dois mandatos.

O problema está no fato de que essas pessoas não necessariamente relacionam sua ascensão social a um projeto de governo. Talvez associem à figura do presidente da República que, como se sabe, não concorre.

Os eleitores despolitizados são os mais vulneráveis ao marketing eleitoral e à reprodução de padrões de pensamento aos quais não chegaram por conta própria. Às vezes, um eleitor machista que não queira ver uma mulher no Planalto só precisa de uma desculpa socialmente aceitável para se decidir. Dizer abertamente que não quer uma mulher na presidência não é socialmente aceitável. “Dilma terrorista”, por exemplo, é muito conveniente, ainda que historicamente falso.

Deriva daí a proposta da oposição de apresentar o ex-governador José Serra como “genérico” de Lula. E propor aos eleitores que não se trata de avaliar e escolher entre dois projetos políticos distintos, mas de encontrar o “melhor genérico” para substituir o presidente da República.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Barões da Mídia estuda autorregulamentação

Por Erivaldo

Olha que noticia interresante: Barões da Mídia estuda autorregulamentação

Governo de um lado Barões da Mídia do outro. Quem tem razão?


Constantemente o governo federal tem sido criticado pelos Barões da Midia, por supostamente tentar controlar os meios de comunicação no País, em propostas presentes no Plano Nacional de Direitos Humanos. Por outro lado,os Barões da Mídia tem sido criticados por blogueiros de todo o pais, uma vez que empresários e empreendedores de comunicação são alinham com o grande capita.Nenhuma sociedade é perfeita. Mas quem tem razão? Enfim, e a sociedade como grande interessada nesta disputa pela verdade, Quem fala por ela?


Mídia nacional estuda autorregulamentação
Principais grupos de comunicação do Brasil analisam a possibilidade de adotar código de conduta para a atividade jornalística

Um dos objetivos é fixar um mecanismo contra ameaças à liberdade de imprensa, como a criação de conselho para "fiscalizar" o jornalismo


RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As entidades que representam os principais grupos de comunicação do país estudam a possibilidade de adotar a autorregulamentação da atividade jornalística, com o estabelecimento de um código de conduta para o exercício da profissão.
A ideia foi defendida ontem pelo vice-presidente da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas), Sidnei Basile, que também é vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril.
Ao discursar na 5ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, em Brasília, Basile afirmou que a medida, entre outras coisas, seria um eficaz mecanismo contra ameaças à liberdade de imprensa.
"O que não podemos é deixar que a agenda da consolidação da democracia representativa, filha direta da liberdade, seja constantemente interrompida pela saudade autoritária de uma nova Lei de Imprensa ou o controle burro de um Conselho Federal de Jornalismo", disse.
Basile se referia à Lei de Imprensa editada pela ditadura e derrubada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009 e à frustrada tentativa do governo federal de aprovar, em 2004, a criação de um conselho para, entre outros pontos, "orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista".
A proposta defendida ontem segue o modelo do Conar (conselho de autorregulamentação publicitária), organização mantida pelo setor publicitário, anunciantes e empresas de comunicação para fiscalizar a ética da propaganda comercial.
O Conar foi criado no final dos anos 70 em resposta à tentativa de adotar uma espécie de censura prévia à propaganda.
De acordo com Basile, o código poderia incluir regras de direito de resposta, que inibam a mistura de opinião com notícia e que evitem práticas como a do jornalista se passar por outra pessoa para conseguir uma reportagem ou divulgar acusações feitas por pessoas que se mantenham no anonimato.
Também presente à conferência, a presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Judith Brito, disse que a associação discute o assunto internamente e pode adotar uma posição ainda neste ano.
Brito, que também é diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã, que edita a Folha, afirmou ser, pessoalmente, a favor da autorregulamentação. "Sou francamente favorável. É uma atitude importante, que a sociedade veria com bons olhos."
O presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Daniel Pimentel Slaviero, também disse que a entidade estuda o assunto, mas ressaltou que hoje as empresas já adotam, de forma individual, mecanismos de autorregulamentação.
Todos os palestrantes defenderam a liberdade de imprensa, mas a maioria dos deputados criticou a cobertura jornalística que é feita do Legislativo.
"A cobertura é maniqueísta. Mídia e imprensa vivem do espetáculo, e essa espetacularização produz uma visão um tanto quanto banalizada do processo legislativo. Há uma relação sadomasoquista", discursou o deputado José Genoino (PT-SP), que citou crítica similar feita pelo ex-ombudsman da Folha Carlos Eduardo Lins da Silva.
Um dos caciques do PT até 2005, Genoino teve o nome envolvido no escândalo do mensalão e hoje é réu no processo do STF que investiga o caso.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), disse que o Legislativo em baixa não atende aos interesses democráticos. "O Congresso tem que ser forte e soberano, com apoio e aplauso da imprensa. E a imprensa tem que ser livre, com apoio e aplauso do Congresso."