quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A mídia à beira de um ataque de nervos


Do Observatório da Imprensa

OS ESPELHOS, O HORROR

Mídia à beira de um ataque de nervos


Por Alberto Dines em 19/1/2010

A mídia brasileira está sendo vítima de um surto da síndrome do pânico: está com horror ao espelho. Berra e esperneia quando alguém menciona a organização de conferências ou debates públicos sobre meios de comunicação, imprensa, jornalismo. Apavora-se ao menor sinal de controvérsias a seu respeito, por mais úteis ou inócuas que sejam. Parece ter esquecido que o direito de ser informado é um dos direitos inalienáveis do cidadão contemporâneo. O Estado Democrático de Direito garante a liberdade de expressão e o acesso universal à informação.

A instituição criada para impedir unanimidades, o poder instituído para promover o pluralismo, o bastião do Estado Democrático de Direito, agora se sobressalta e entra em transe quando pressente outros holofotes tentando focalizá-lo.

Diagnóstico 1: modéstia. Diagnóstico 2: narcisismo. Diagnóstico 3: onipotência. Diagnóstico 4: hipocrisia.

Nada impositivo

O primeiro episódio ocorreu no início de dezembro, antes da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom): o grosso das corporações empresariais de mídia desistiu de participar dos debates, compareceram apenas duas. As únicas que ficaram bem na fita. A Confecom chegou ao fim, produziu um calhamaço de propostas, a maioria inócuas, e os ausentes nem puderam cantar vitória porque se escafederam antes das luzes se apagarem (ver, neste OI, “Lições de manipulação” e “O misterioso e suspeito desaparecimento do Conselho de Comunicação Social”).

Menos de um mês depois, final de dezembro, novo faniquito: o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). A mídia inicialmente parecia sensível aos apelos das vítimas, parentes ou entidades em defesa dos direitos humanos para reabrir as investigações sobre a repressão política durante o regime militar. Então aparece a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e começa a urrar como aquelas senhoras que pressentem uma barata no quarto escuro.

A mídia individualmente e a ANJ como corporação tiveram meses para estudar o 3º PNDH, esta é a sua função em nome da sociedade. Só se lembraram de examinar o documento quando o debate sobre tortura já estava aceso e alguém sugeriu abrandar o confronto e mudar o enfoque: que tal discutir a mídia? Então a mídia deu marcha a ré e entrou numa briga que não era sua porque no programa figurava a sugestão para a criação de um ranking das empresas de mídia (sobretudo mídia eletrônica) que respeitam os direitos do seu público e não lhes impinge baixarias. Convém lembrar que o PNDH é um programa, coleção de propostas, nada tem de mandatório ou impositivo.

O ombudsman da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, revoltou-se, caiu de pau no seu jornal (ver “Ombudsman critica omissão do jornal”). Acontece que a Folha, por rodízio, tornou-se a mais estridente defensora das posições da ANJ porque a sua presidente é uma das superintendentes do jornal.

Símbolos religiosos

É antiga a idéia de incluir a cruzada contra a baixaria televisiva nas iniciativas em defesa dos direitos humanos. Já em 1999, no primeiro mandato de FHC, o então Secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori, tentou enquadrar os canais de TV que recusavam a classificação da programação por faixa etária (ver, neste Observatório, “Os fanáticos ensandecidos”). Então, por que tanto chilique?

O Estado de S.Paulo chegou a publicar uma entrevista com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, consultor das Nações Unidas para questões de direitos humanos, na qual ele afirmava categoricamente que o 3º PNDH era herdeiro dos dois anteriores (produzidos nos mandatos de FHC) e que sua abrangência enquadrava-se nas recomendações e paradigmas internacionais.

A CNBB, campeã da luta contra a tortura ainda nos anos de chumbo, esqueceu o seu glorioso passado e pôs-se a berrar contra outras sugestões do 3º PNDH: liberar as restrições contra o aborto, permitir a união civil de pessoas do mesmo sexo e proibir a utilização de símbolos religiosos em instalações públicas. Mesmo sabendo que nada disso poderia ser implementado sem os devidos trâmites legislativos, a CNBB e a ANJ insistiram na histeria.

E ficaram todos muito felizes quando o salomônico presidente Lula mandou copidescar o texto do PNDH por ele assinado. Não se fala mais em direitos humanos nos próximos doze meses. Engano: a luta pelos direitos humanos não tem dono, está definitivamente incluída na pauta dos debates nacionais. Tortura não é coisa do passado, é do presente.

É melhor liberar o aborto do que encontrar diariamente nos lixões recém-nascidos abandonados por mães solteiras. A exibição de símbolos religiosos em repartições do Estado afronta aqueles que acreditam que o Estado é garantidor da isonomia cidadã, da democracia e da tolerância.

Causas e terapias

A síndrome do pânico voltou a manifestar-se intensamente no último fim de semana – e não por causa da catástrofe do Haiti –, quando o Estadão descobriu que em março começará uma nova conferência nacional, desta vez para discutir cultura. Deus nos acuda, horror. Cultura? Chamem o Goering! Na pauta menciona-se a necessidade de promover a regionalização da produção televisiva e aparece a expressão maldita “monopólio de comunicação”.

Tremendo de medo, lívida, cheirando seus sais, Madame Mídia convocou o seu zorro preferido: o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ, ex-ministro das Comunicações do atual governo, o mesmo que pediu a impugnação integral da Lei de Imprensa, esquecido de que algumas de suas cláusulas eram indispensáveis para evitar o vácuo legal). O herdeiro de Chagas Freitas, ex-colunista especializado em pedir votos aos funcionários públicos, desinteressado como sempre, investiu imediatamente em defesa da aterrorizada mídia negando a existência de qualquer monopólio nos meios de comunicação.

Qualé, seu Miro – já esteve em Santos? Sabe o que se passa na maioria das capitais do Norte-Nordeste? Já examinou a situação das nossas cidades médias onde a principal emissora de TV é também a principal acionista do maior diário? Conhece os regulamentos da Federal Communications Commission (FCC) americana que impedem a propriedade cruzada de veículos na mesma região?

A síndrome do medo tem várias causas e várias terapias. Fármacos resolvem. O divã, porém, é mais eficaz.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um pouco das dificuldades de comentar posts políticos.

Quem lê corriqueiramente os comentários feitos aos posts talvez tenha a impressão que algumas discussões não andam muito. Ou andam menos do que poderiam. Algumas listas de comentários podem até ser chatas de acompanhar, no mínimo com pouco aprendizado real.

Eu penso que isso ocorre e que pode ser por alguns comportamentos:

a) Fazer comentários sem argumentação, pesquisas ou fontes. No post sobre a Venezuela no sábado passado havia muito de “Eu li que o governo é bom, então é!”, “O presidente é bolivariano, então é ruim”. Acho que poucos como o H. C. Paes saíram do lugar comum e buscaram analisar dados com fontes;

b) Repetição de comentários. Eu acho muito difícil convencer alguém em um blog, pois quem coloca comentários já tem opinião formada. Raramente comentários expressam uma dúvida. No entanto, se alguém tem opinião, deve expressá-la e fazer comentários sim, pois pode influenciar para seu campo a opinião de parte das 50 mil pessoas que lê sem se manifestar. Mas, se mesmo comentários argumentativos provavelmente não convencerão o outro comentarista, repetir o mesmo comentário meia dúzia de vezes não melhora o efeito. Pelo contrário, acho que pode dar a impressão de que a pessoa não tem segurança e apenas está insistindo. Creio que se alguém deseja insistir em uma tese, deve procurar a cada comentário trazer informações diferentes ou complementares;

c) Pedir autocrítica ao outro no lugar de fazer seu próprio trabalho de pesquisa e argumentação. É muito comum tentar defender alguém, alguma coisa ou alguma política falando “Cadê o contraponto?”, “Porque você não critica seu partido?” Ora, isso não é nem defesa nem ataque. A meu ver é apenas vazio. Comentários são opiniões, não são monografias de fim de curso, ninguém precisa testar hipóteses alternativas antes. Quem defende algo é porque gosta do conceito envolvido, não tem obrigação de já trazer uma crítica embutida. Porque acho algo belo devo dizer na frase seguinte o porquê eu poderia também achar feio? Não. Cabe a quem acha algo feio dizer porque acha assim.

Também penso ser importante observar que em muitos casos não há uma verdade final a ser descoberta ou que tenha que prevalecer. Na maioria das vezes estamos falando de ciências sociais, da América Latina e do Brasil. E isto nos deve lembrar de algumas coisas:

a) Trata-se das sociedades mais divididas do mundo. Não em religião, decerto, mas em classes sociais e em acesso à informação, sim. Os países da América Latina são os que apresentam maior concentração de renda ao longo das décadas. E apresentaram também histórias conturbadas em relação a direitos civis. Uma pessoa conservadora pode sinceramente achar que determinados caminhos são inadequados, ter receios disso e querer alertar sobre isso. Mas deve compreender que sua visão do mundo a ser conservado pode não coincidir com o que a maioria enxerga. Uma pessoa do campo progressista pode imaginar que nada muda como gostaria. Mas deve compreender que muitas pessoas não gostam de mudanças. Enfim, soluções conservadoras atendem a expectativas conservadoras e soluções reformistas atendem a pessoas progressistas. Pode-se argumentar a favor das soluções que se deseja, mas é ilusão imaginar que a maioria das pessoas irá concordar;

b) O Brasil, como outros países da região, experimentou muitas coisas. Governos populistas, desenvolvimentistas, autoritários, omissos, liberais, reformistas. A maior ou menor presença do estado deixa impressões diferentes nas memórias das pessoas. O resultado é que alguns programas de governo são eleitos em detrimento de outros;

c) Para complicar, as divisões políticas não necessariamente acompanham as divisões sociais. Também não há um só caminho para maxiização da felicidade social. Para alguns ela decorre da otimização da produção, para outros da sensação de justiça social.

As sociedades latino-americanas são injustas e com dificuldade para se desenvolver economicamente. Isso requer mudanças. Mas são compostas por pessoas frequentemente conservadoras. Para convencê-las é necessário bons argumentos. Muitas pessoas expressam ou defendem opiniões aparentemente contraditórias. Isto faz parte do cenário. Não é nada de se estranhar que soluções centristas acabem prevalecendo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"Isso é uma vergonha"



Um comentário que vazou no ar, na última edição do ano do Jornal da Band , na noite de quinta, 31, fez a emissora começar o ano de cabelo em pé.

Boris Casoy fez um comentário ácido sobre os desejos de feliz ano novo que dois garis gravaram para o jornal: "Que m... Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho", disse o âncora, antes de ser interrompido por uma voz que gritava ao fundo "deu pau", para avisar que o áudio estava indo ao ar.

Procurada pelo Terra, a assessoria da Band mandou o seguinte e-mail: "Ouvido a respeito do assunto, Boris Casoy reconheceu que a frase foi infeliz, ofensiva aos garis, e hoje, no jornal, vai pedir desculpas".

Acontece que a indignação já está rodando a internet e virando piada no Twitter: "Mas não é Boris que diz que 'isso é uma vergonha?'", questionava um internauta. Nem fale.