segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um pouco das dificuldades de comentar posts políticos.

Quem lê corriqueiramente os comentários feitos aos posts talvez tenha a impressão que algumas discussões não andam muito. Ou andam menos do que poderiam. Algumas listas de comentários podem até ser chatas de acompanhar, no mínimo com pouco aprendizado real.

Eu penso que isso ocorre e que pode ser por alguns comportamentos:

a) Fazer comentários sem argumentação, pesquisas ou fontes. No post sobre a Venezuela no sábado passado havia muito de “Eu li que o governo é bom, então é!”, “O presidente é bolivariano, então é ruim”. Acho que poucos como o H. C. Paes saíram do lugar comum e buscaram analisar dados com fontes;

b) Repetição de comentários. Eu acho muito difícil convencer alguém em um blog, pois quem coloca comentários já tem opinião formada. Raramente comentários expressam uma dúvida. No entanto, se alguém tem opinião, deve expressá-la e fazer comentários sim, pois pode influenciar para seu campo a opinião de parte das 50 mil pessoas que lê sem se manifestar. Mas, se mesmo comentários argumentativos provavelmente não convencerão o outro comentarista, repetir o mesmo comentário meia dúzia de vezes não melhora o efeito. Pelo contrário, acho que pode dar a impressão de que a pessoa não tem segurança e apenas está insistindo. Creio que se alguém deseja insistir em uma tese, deve procurar a cada comentário trazer informações diferentes ou complementares;

c) Pedir autocrítica ao outro no lugar de fazer seu próprio trabalho de pesquisa e argumentação. É muito comum tentar defender alguém, alguma coisa ou alguma política falando “Cadê o contraponto?”, “Porque você não critica seu partido?” Ora, isso não é nem defesa nem ataque. A meu ver é apenas vazio. Comentários são opiniões, não são monografias de fim de curso, ninguém precisa testar hipóteses alternativas antes. Quem defende algo é porque gosta do conceito envolvido, não tem obrigação de já trazer uma crítica embutida. Porque acho algo belo devo dizer na frase seguinte o porquê eu poderia também achar feio? Não. Cabe a quem acha algo feio dizer porque acha assim.

Também penso ser importante observar que em muitos casos não há uma verdade final a ser descoberta ou que tenha que prevalecer. Na maioria das vezes estamos falando de ciências sociais, da América Latina e do Brasil. E isto nos deve lembrar de algumas coisas:

a) Trata-se das sociedades mais divididas do mundo. Não em religião, decerto, mas em classes sociais e em acesso à informação, sim. Os países da América Latina são os que apresentam maior concentração de renda ao longo das décadas. E apresentaram também histórias conturbadas em relação a direitos civis. Uma pessoa conservadora pode sinceramente achar que determinados caminhos são inadequados, ter receios disso e querer alertar sobre isso. Mas deve compreender que sua visão do mundo a ser conservado pode não coincidir com o que a maioria enxerga. Uma pessoa do campo progressista pode imaginar que nada muda como gostaria. Mas deve compreender que muitas pessoas não gostam de mudanças. Enfim, soluções conservadoras atendem a expectativas conservadoras e soluções reformistas atendem a pessoas progressistas. Pode-se argumentar a favor das soluções que se deseja, mas é ilusão imaginar que a maioria das pessoas irá concordar;

b) O Brasil, como outros países da região, experimentou muitas coisas. Governos populistas, desenvolvimentistas, autoritários, omissos, liberais, reformistas. A maior ou menor presença do estado deixa impressões diferentes nas memórias das pessoas. O resultado é que alguns programas de governo são eleitos em detrimento de outros;

c) Para complicar, as divisões políticas não necessariamente acompanham as divisões sociais. Também não há um só caminho para maxiização da felicidade social. Para alguns ela decorre da otimização da produção, para outros da sensação de justiça social.

As sociedades latino-americanas são injustas e com dificuldade para se desenvolver economicamente. Isso requer mudanças. Mas são compostas por pessoas frequentemente conservadoras. Para convencê-las é necessário bons argumentos. Muitas pessoas expressam ou defendem opiniões aparentemente contraditórias. Isto faz parte do cenário. Não é nada de se estranhar que soluções centristas acabem prevalecendo.

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